falsos hipócritas

ligam o ar-condicionado
no espaço artificial
e isso me dá sono

em qualquer lugar que se esteja
alguém te analisa de alguma forma

a roupa falsifica o corpo
tal como cada um se mascara de si mesmo
tornando-se um falso hipócrita

mas todo mundo explica

cientistas que querem generalizar as coisas para torna-las mais fáceis a compreensão e assimilação

suas habilidades de aprendizagem e abstração são mínimas..
e ainda se poupam disso

querem verdades prontas para não precisar pensar nem sentir,
para não vivenciar as coisas.. somente as teorias..

cada vez mais parecidos com robôs..

mudaram muito ou foi tudo ilusão

tem gente que antes parecia tão próximo e real, sincero..
passa uns anos some, depois passa na rua e finge que nem vê..

parece que não aconteceu nada,
ou as pessoas mudaram muito ou foi tudo ilusão..
os anos se passam e a gente não sabe mais quem a gente é..
me olho no espelho e não me reconheço,
pareço vertigem, esparso, múltiplo..

tantos e tantas que foram e nem sei mais em qual está..
a vida vai caminhando e não dá tempo pra parar
e pensar o que escrever sobre si mesmo..
tudo muito complexo e confuso..
não sei

que bom que sou neurótico


ela desliza na tv
temporais surtam tempos porvir
sucursais

semblante sem asa se vai..
cada tempo para e segue seu momento
na lua ou no sol
sinto o cheiro dos animais
bichos que somos
humanos

com sono, correndo

os muros pixados, pessoas passando olhando pro chão
as poças de esgoto de restos humanos
o frio da noite
comunistas e parasitas ao nosso redor

dentro do ônibus

estou no lugar onde mais tenho ficado comigo mesmo
num espaço de tempo que entro em mim na viagem
enquanto isso assisto a passagem
tem gente na rua mexendo em lixos de gentes de casas
-outros que passam e fingem que não vê

e eu aqui, sinto a história do presente que se passa
a cada momento